quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Página do meu diário













Sou da cor da terra, que me acolhe.
Já fui andarilho, as areias do deserto pisei.
Em muitas tendas dormi.
No Nilo lavei meu corpo e lá deixei
a poeira dos caminhos que passei.
Venho de longe e de perto,
trago comigo o certo e o incerto
guardados em mim.
Sou feita de mel, de chama e trovão.
Fogo e frio, vento e noite
forjaram-me...
Corpo forte, alma inquieta,
amores rudes, ternura velada
que só e a sós então se revela.
Meu corpo foi negro, escravo...
meu sangue à terra se misturou,
meus filhos o chicote vergastou e levou...
Fui rosa, perfumada e cobiçada,
bela e amada...
Mas em conspirações, mentiras
e em delírios de grandeza,
a alma perdi...
Transformei-me em espinho...
distribuindo dor, obstinada e cruel,
nesse caminho escuro segui.
Guerras, lanças, fileiras,
adaga em punho,
tornei ainda mais fundo meu precipício...
Conheci a dor que aos outros infligi.
Alma fraca, sem bons sentimentos,
não suportei... e o maior dos crimes cometi.
Da vida desisti...
Rolei por abismos de trevas e mais dor...
Vi e vivi todo o horror.
Um dia o Amor Maior de mim compadeceu,
me deu Sua mão, me levantou
e nova chance me deu.
Borduna e tacape me fizeram conhecer a pureza,
e na simplicidade da natureza
conheci o milagre do perfume de uma flor.
E minha alma aos poucos recuperou...
Quando em chamas ardi... enfim me encontrei.
E nessa estrada, hoje, apenas passo...
Buscando forças, para não sucumbir ao fracasso.
Sou nada... apenas aprendiz...
Quero apenas merecer um dia o perdão e... ser feliz.

Fátima Moreira - 09/08/2007

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