sábado, 29 de outubro de 2011

Só isto eu sei...

E então dei-me conta que não levarei na algibeira todos os abraços que dei; levarei principalmente os que eu desejei ter dado.

Não levarei os afagos e os beijos que dei, mas sobretudo aqueles que eu não pude dar.

Não levarei o arquivo completo de muitos amores correspondidos, mas a ficha catalogada de cada grande amor que foi preciso negar, esquecer ou reprimir.

Não levarei históricos de fartura prodigalidade no terreno dos afetos, mas isto não torna menor a intensidade dos afetos cultivados.

Como poucas pessoas, levarei vasta experiência sobre saudade, esperança, solitude e porque não dizer sobre alegrias imensas por coisas pequeninas... pequeninos e inesquecíveis gestos de afeição.

Como poucas pessoas, saberei falar dos êxtases do meu coração, pelo simples pulsar de um outro coração que nunca tenha notado o meu.

Levarei na agibeira arco-íris intensos, suspensos a meio céu por não haver outra peça no lado oposto que permitisse o milagre das cores luminosas, decompostas em vários tons.

Talvez, se eu tivesse vivido todos estes amores, eu não soubesse falar sobre o amor e de minhas mãos jamais nascesse um poema, um louvor, uma canção, um gesto de gratidão.

Talvez a algibeira estivesse agora vazia porque não carregamos cantis para sedes amplamente saciadas!

Sinto-me tão plena e tão verdadeiramente rica!

Quem pode entender que eu me sinta assim?

Sei que em algum lugar do universo este manancial está jorrando livre, perene e sublimado!

Só isto eu sei!

Fátima Irene Pinto

Qual é o gesto que coloca o seu amor em movimento?

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