domingo, 20 de maio de 2012

A VAGA E A ROCHA 
(Andréa Motta)
Quisera sobre a mulher poder só descrever
momentos doces, sublimações e fantasias.
No entanto, não posso da vida esquecer
não ser feita somente de alegrias.

Tampouco posso olvidar dos preconceitos
da dupla jornada, das mãos cheias de calos
do salário menor, do tanque todos os dias
do assédio sexual, da barriga à beira do fogão

Tanto faz que seja ruiva, negra ou loira,
que seja índia ou morena cotidianamente
desenhar-te transcende a magna arte

Conheço teus sonhos com a maternidade
com casa própria, com a liberdade.
Conheço tua revolta, tua ansiedade

Por vezes pareces ser a oroboro
a girar eternamente com a boca
enfiada na própria cauda.

A bem da clareza se registre
toda mulher possui uma peculiar beleza
um brilho manso no olhar

E muita garra p'ra viver o que lhe cabe
como uma vaga selvagem
batendo forte numa rocha.
Retrato teu...
Me ensina a te entender
Me ensina a saber te ter
Me ensina a saber te esperar
Me ensina a saber te buscar
Eu quero te ter vez em quando
Não te quero em meu mundo tanto
Mas se te querer e te ter
te angustia quanto
não te quero assim sob o meu manto
Quero-te vez em quando
Mas me ensina a esperar tanto
Me ensina a saber quando
Me ensina a entender quanto
Sê teu meu encanto
Quando for o teu quando
Mas me ensina...
Preciso aprender o teu quanto
E entender que teu encanto
é maior que o meu pranto
E que não te ter sob o meu manto
não é motivo para angústia tanto
Quero-te vez em quando
Mas me ensina a esperar tanto
E me ajuda a lembrar deste canto
Quando em meu canto, sob o meu manto,
eu não souber esperar quanto
para ter colado ao meu corpo teu encanto...
Que eu quero tanto...
(Adriana Luz Ruella)
MULHER
Priscila de Loureiro Coelho

A sedução é sua vontade
Na crueldade de sua condição
E se avoluma dentro de seu peito
Explodindo feminilidade
Como lava de um antigo vulcão
Que escorre aquecendo seu leito
E derrete no calor da paixão
Que é perene...E não tem idade

Seu corpo é templo de contemplação
Onde cultua sua essência feminina
Que de menina se tornou mulher
Seu corpo abriga eterna explosão
Em seu interior é que determina
O modo exato como ela quer
Traçando assim a sua própria sina
Escrita a fogo em seu coração.

sábado, 12 de maio de 2012

Quem somos afinal?

Uma centelha do infinito
A anos luz uma explosão
Uma faísca do intróito
Ou a costela de adão?
Uma partícula do todo
Um grão de areia no deserto
Filha do Deus altíssimo
Sua imagem e semelhança
A alma que em mim palpita
Caminhando ao infinito
Eterna aprendiz nessa viagem
Na bagagem carrego
Dor transformada em amor
Na escola da vida estou sendo
lapidada pelo criador.
Quando daqui eu me for
Retornando ao pó da origem
Quero deixar plantada
Uma árvore eterna
Que sem data ou estação
colham frutos de amor.
(Candy Saad)

segunda-feira, 7 de maio de 2012


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu ris...
o.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda

terça-feira, 1 de maio de 2012

Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: ... quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? Tudo. Que desejas?
 - Nada. Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão.
 A memória voou da minha fronte. Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
(Cecília Meireles)