domingo, 20 de maio de 2012

A VAGA E A ROCHA 
(Andréa Motta)
Quisera sobre a mulher poder só descrever
momentos doces, sublimações e fantasias.
No entanto, não posso da vida esquecer
não ser feita somente de alegrias.

Tampouco posso olvidar dos preconceitos
da dupla jornada, das mãos cheias de calos
do salário menor, do tanque todos os dias
do assédio sexual, da barriga à beira do fogão

Tanto faz que seja ruiva, negra ou loira,
que seja índia ou morena cotidianamente
desenhar-te transcende a magna arte

Conheço teus sonhos com a maternidade
com casa própria, com a liberdade.
Conheço tua revolta, tua ansiedade

Por vezes pareces ser a oroboro
a girar eternamente com a boca
enfiada na própria cauda.

A bem da clareza se registre
toda mulher possui uma peculiar beleza
um brilho manso no olhar

E muita garra p'ra viver o que lhe cabe
como uma vaga selvagem
batendo forte numa rocha.

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