sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O maltrapilho

Uma bituca apagada
Mantém no canto da boca
Uma alparcata rasgada
Nas pernas a calça rota

Uma blusa meia malha
Velhinha e toda surrada
Às vezes chapéu de palha
Outras cabeça raspada

Um cobertor de algodão
Pendendo de suas costas
Vive arrastado no chão
Quando não cheio de moscas

Só de chuva toma banho
A fetidez que exala
É pior que de rebanho
Da boca já nem se fala

Nunca teve ocupação
Nem gostou de trabalhar
Não ouviu pai, nem irmão
Nem enxada quis pegar

Da vida da ociosidade
Fez a sua profissão
Vivendo da caridade
Passa muita privação

É moço, parece velho
Rejeitado, angustiado
A poça d’água é seu espelho
Da família abandonado

Na vida dura, lascada
Sujo de lama e poeira
Pondera já ser um nada
Se não mudar a estribeira

Lembra os conselhos do pai
As sugestões do irmão
Começa a pensar, aí vai
Mudar sua condição

Mas como, se maltrapilho
Ninguém o vai aceitar
Resolve ir ao caudilho
Suas idéias confessar

O pastor o convidou
Para um bom banho tomar
Em seguida o barbeou
E novas roupas lhe foi dar

Trocado o indumentário
Outra pessoa ficou
Chegou ao fim do calvário
E o Pastor o abençoou.

Armando A. C. Garcia
Porangaba, 06/03/2011

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