domingo, 23 de outubro de 2011

Trovas

Olha com indulgência aqueles que se embriagam... Os teus defeitos não são menores.

Se queres paz e serenidade, lembra-te da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.

Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.

Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere; não firas ninguém.

Busca a felicidade agora... Não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho, senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.

Que pobre o coração que não sabe amar e não conhece o delírio da paixão.

Se não amas, que sol pode te aquecer, ou que lua te consolar?

É inútil a tua aflição; nada podes sobre o teu destino.

Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?

Além da Terra, pelo Infinito, procurei, em vão, o Céu e o Inferno.

Depois uma voz me disse: Céu e Inferno estão em ti.

Como o rio, ou como o vento... vão passando os dias.

Há dois dias que me são indiferentes: O que foi ontem... O que virá amanhã...

Admito que já resolveste o enigma da Criação... E o teu destino?

Aceito que desvendaste a Verdade! E o teu destino?

Está bem, viveste cem anos felizes e ainda tens muitos para viver!
E o teu destino?

Se não tiveste a recompensa que merecias, não te importes, não esperes nada!

Já estava tudo nas páginas daquele livro que o vento da eternidade vai virando ao acaso.

A tulipa rubra nasce no campo que foi regado pelo sangue de um altivo rei.

A violeta brota do sinal de beleza que palpitava na face de uma doce adolescente.

Há tanto tempo giram os astros no espaço!

Há tanto tempo se revezam os dias e as noites.

Anda de leve na terra, talvez aonde vais pisar ainda estejam os olhos meigos de um adolescente.

Se em teu coração cultivaste a rosa do amor...

Quer tenhas procurado ouvir a voz de Deus, ou esgotado a taça do prazer...

A tua vida não foi em vão.

Ouve o que a Sabedoria diz todos os dias: A vida é breve.

Não te esqueças, não és como certas plantas que rebrotam depois de cortadas.

Pessoas presunçosas e obtusas inventaram diferenças entre o corpo e a alma.

Sei apenas que o vinho apaga as angústias que nos atormentam e nos devolve a calma.

Um pouco de pão...
Um pouco de água à sombra de uma árvore, e o teu olhar...

Nenhum sultão é mais feliz do que eu, e nenhum mendigo é mais triste.

No turbilhão da vida são felizes aqueles que presumindo saber tudo não se instruem.

Fui buscar os segredos do Universo e voltei invejando os cegos que encontrei pelo caminho. Nunca procurei saber onde encontrar o manto da mentira e do ardil...

Mas sempre andei à procura dos melhores vinhos.

Um dia pedi a um velho sábio que me falasse sobre os que já se foram.

Ele disse: Não voltarão... Eis o que sei.

Quando eu não mais viver, não haverá mais rosas, nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados; não haverá auroras, nem amores, nem penas: o Universo terá acabado, pois ele é o meu pensamento.

Rosas, Taças, Lábios vermelhos: Brinquedos que o Tempo estraga!

Estudo, Meditação, Renúncia:
Cinzas que o Tempo espalha.

Omar Khayyam

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