sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Natal? De quem?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau, do peru, das rabanadas.

- Não esqueças o colorau, o azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!

- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!

- Oh mãe, estou p’ra ver
- Que prendas vou ter.

- Que prendas terei?
- Não sei, não sei...

Num qualquer lado
Esquecido, abandonado
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
- Lá fora tão frio
Cá dentro tão quente!

Rasgam-se embrulhos
Admiram-se as prendas
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis.

E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar...

E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim
Quem se lembrou de Mim?
Não tive teto nem afeto!

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
Foi este o Natal de Jesus?!!!

João Coelho dos Santos

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