quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Se eu morrer de manhã

Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes.
Eu não me entristeço:
Ter tido a morte é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu - o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
E do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar,
É da morte quanto sei.

Rosa Lobato de Faria

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