Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes.
Eu não me entristeço:
Ter tido a morte é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu - o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
E do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar,
É da morte quanto sei.
Rosa Lobato de Faria
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