quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fome de dignidade

De que me adianta meus olhos se fecharem à realidade
Sair pelos campos a ver somente flores.

Sentir-me bem comigo mesmo
Ter minha cama limpa, macia a espera de meu corpo
Estar bem alimentado, às vezes até em demasia...

De que me adianta fazer de conta que minhas crianças estão a sorrir
A brincar, viver livremente entre campos
E plumas de beleza e encanto.

De que me adianta, enfim...
Sentar-me, aceitar a tudo que meus olhos
Teimam fazer de conta não existir
Mas existe...

Quanto poderia ser feito pelos templos que ostentam riquezas?
Seria esta o tipo de demonstração de fé esperada por nosso Pai?
Quanto compramos a mais, quanto desperdício...

Quantas vezes paramos
E damos as costas aos problemas de outras nações
Como se nunca fossem nos tocar?

Crianças jogadas do alto do edifício pelo próprio pai...
Outras, morrendo ao léu, por fome...

A ave de rapina apenas a esperar o derradeiro instante
Seria o derradeiro instante do amor...?
Seria o derradeiro instante de cada um de nós?

Ou, seria um chamado para a maior de todas as guerras?
Lutar contra a fome, a fome de alimentos, a fome de justiça
A fome de dignidade, a fome de vergonha
A fome de lares destruídos, a fome da decência.

Dar as costas, achar que nada poderá ser feito, seria cômodo...
Entrelacemos as mãos! Cuidemos de nossos lares
Sem esquecer que tudo que jogamos fora, por excesso
Poderá servir ao lar de nosso vizinho.

Não importa se este vizinho é negro, branco, amarelo
Homem, mulher, homossexual, nada importa...
Importa somente. Que olhemos como nosso irmão, apenas isto!

Respeitando a individualidade de cada um e, sem humilhação
Ajudando, estendendo a mão, abrindo o coração, ofertando o pão...

A humanidade, passa, talvez, pela fome moral...

Devido a ganância dos grandes senhores
Governantes escolhidos pelos votos, outros; impostos por minoria.

Esta fome violenta que arranca do homem a dignidade do trabalho
E com este labor o sustento de sua própria família...

Ah! Esta dor que domina a minha alma a deparar-me com tal cena!

A lágrima que roça minha face? Profunda. Chegando as profundezas de minhas entranhas!

Quando acho que já teria feito muito
Vejo que ainda existe muito a ser feito
Quando penso em descansar
Vejo que tenho que levantar-me
Lutar pelos pequenos vigiados pelos urubus

Fazer minha parte... Lançar meu exemplo a meu próximo
E esperar que cada qual faça o mesmo
E, assim alcançarmos a vitória sobre a fome
Que coroe a dignidade da vida!

Se me satisfaço com um pão mas tenho moedas para seis...
Reservo agora, os outros cinco a meus irmãos...

Afinal, para aonde um dia vou, me apresentar a meu Pai, nada levo...

Sem ser minha história...

Paulo Nunes Junior

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